Olá!
Gente, o assunto hoje é um pouco bicudo, mas muito importante.
Quando eu comecei a me interessar por trabalhos manuais vi muita coisa nas minhas andanças pela Internet. Naquele afã de aprender e conhecer o assunto, visitei muitos blogs e sites, mas muitos mesmo. E, claro, enchi meu computador com ideias, riscos, moldes, vídeos e links de todo tipo que pudessem dar suporte ao meu aprendizado. Como já disse aqui várias vezes, não faço cursos de nada, é tudo na base do "by myself". Aprendo olhando, como se diz, e também há muito de intuição e lógica. Claro que assim é mais difícil! Porém, foi a maneira que encontrei de fazer o que queria dentro do meu contexto de vida.
De qualquer modo, a medida que eu ia fazendo uso desses conhecimentos espalhados na Internet me perguntava: e os direitos autorais? E porque essa pergunta? A resposta é obvia: toda criação tem dono, mesmo que não esteja registrada.
Eu sou professora de formação, exerci a profissão durante vários anos nos níveis fundamental, médio e universitário, publiquei artigos, escrevi monografia e por fim tese de mestrado e sei muito bem o que significa a propriedade intelectual e principalmente a importância de sua proteção.
Mesmo sem conhecer detalhes específicos dos direitos autorais sobre artes manuais (algo novo em minha vida), comecei a dar prioridade ao que já é de domínio público e ao que estava autorizado expressamente pela autora. Quando utilizo uma ideia, um molde, um risco, uma imagem, etc., me preocupo em atribuir os devidos créditos. Aqui no blog já aconteceu de eu esquecer quando se trata de imagens que encontro no Google, mas frequentemente faço revisão nas postagens para checar.
O grande problema é que em tempos digitais e virtuais o que tem ocorrido é que as autorias vão se perdendo nesse universo que até podemos chamar de "terra de ninguém". Muita gente acredita que se está na rede não tem dono!!
Não é bem assim.
Esse assunto me preocupou ainda mais quando decidi confeccionar as bonecas criadas pela Tone Finnanger. Gente, eu fiquei impressionada com a quantidade de pessoas que produzem e vendem as bonequinhas e outros personagens do universo Tilda. Mas o que mais me chamou a atenção são os moldes e livros inteiros escaneados e publicados, sem a menor cerimônia! E isso também ocorre com outros autores!
Depois que postei aqui as primeiras bonequinhas Tilda que fiz, recebi encomendas. Pessoas das minhas relações pessoais também se interessaram em comprar. Fiquei feliz e lisonjeada, mas decidi que se alguém quiser uma bonequinha eu farei com o maior prazer, mas não cobrarei nada por isso. Parece loucura? Mas não é. E isso vale para muitas outras coisas do gênero.
Entretanto, como isso demanda tempo e envolve custos adotei o seguinte critério para o caso das Tildas: priorizo pessoas muito próximas, familiares e amigas, incluindo as que passam por aqui e estabelecem uma relação de amizade, mesmo que virtual. Além disso, me limito a fazer uma Tilda para presente uma vez por mês. Também não utilizo materiais originais - raros e caríssimos no Brasil, diga-se de passagem. Essa restrição obriga-me a fazer as roupinhas com tecidos e adereços alternativos, mas as características essenciais permanecem, de acordo com os moldes que acompanham os livros.
Esse foi o jeito que encontrei para compartilhar esse objeto de desejo que conquistou o mundo.
Aliás, quem me acompanha aqui no blog já sabe que não comercializo minhas criações. Foi uma opção que fiz, porque não tenho tempo e compromisso com cliente é coisa séria. Além disso, tenho dificuldade em produzir peças repetidas. Até faço, às vezes, quando quero presentear várias pessoas com corações, por exemplo, ou pano de copa. Mas são exceções e mesmo assim me esforço para fazer um diferente do outro, nem que seja um pequeno detalhe.
Vai que eu receba uma encomenda de não sei quantas caixinhas iguais??? Eu iria morrer de aflição!!! Mas sou humilde a ponto de admitir que se fosse necessário arregaçaria as mangas e faria!!
Quem estiver lendo esse post pode estar se perguntando: Porque essa preocupação maior no caso das Tildas?
É simples: primeiro porque virou febre mundial e segundo, se vocês se derem ao trabalho de visitar o site oficial da marca (
Tone), logo perceberão que se trata de marca registrada. Eu disse no início que direito autoral independe de registro, mas quando há esse registro é muito mais complicado.
No site oficial há o seguinte texto:
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Please respect the copyright law in regard to Tilda.
The copyright law is there to protect designers and
other artists, and their livelihood.
Tilda is made for private use.
According to copyright law you can't sell Tilda models on
the commercial market, or put Tilda patterns or templates
on the internet for anyone to use.
Thank you.
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Traduzindo pelo Google:
Por favor, respeitem a lei de direitos autorais em relação a Tilda.
A lei de direitos autorais está lá para proteger os designers e
outros artistas, e seus meios de subsistência. Tilda é feita para uso privado. acordo com a lei de direitos autorais que você não pode vender modelos Tilda no mercado comercial, ou Tilda colocar padrões ou modelos na internet para qualquer um usar. Obrigada.
E não é o único caso. Temos que estar atentas para duas coisinhas antes de pensarmos em reproduzir algo criado por outra pessoa: a letra R circulada que aparece nos produtos registrados e também, no caso de criações estrangeiras, a palavra Copyright
A melhor forma de se entender essas questões é a prática da empatia, isto é, temos que nos fazer a seguinte pergunta: eu gostaria que algo criado por mim, resultante de horas de trabalho, investimento, gasto de energia intelectual, fosse simplesmente copiado e comercializado indiscriminadamente sem a minha autorização?
Continuei pesquisando sobre o assunto e encontrei pessoas que têm a mesma preocupação. Cito aqui a
Sica Maria e a
Marcinha
A Sica postou sobre isso recentemente e a Marcinha compartilhou um texto muito bom sobre artesanato contemporâneo e proteção de direitos, que pode ser lido se acessarem o segundo link acima. Insisto: vale a pena dedicar um tempinho a essa leitura, por que ela elucida muitas coisas.
Quando fazemos artes manuais por hobby e para uso privado até pode parecer que essas questões tenham um peso menor, mas elas não desaparecem até porque, de uma forma ou outra quase sempre nos inspiramos em alguém. É claro que devido à enorme quantidade de informação que vamos acumulando ao longo do tempo nessa atividade, muitas vezes nossos insights resultam inconscientemente de influências daqui e dali e das quais já não sabemos mais de onde vieram. Mas isto é exceção.
Se sabemos de onde vem nossas inspirações e se publicamos as nossas criações e "criações" nos blogs, facebook, orkut, etc., o mínimo a ser feito é atribuir os devidos créditos.
E se decidimos fazer das artes manuais nosso meio de vida, precisamos realmente estar muitíssimo mais atentas e sermos respeitosas com os talentos alheios.
Seria ótimo conhecer a opinião de vocês sobre esse assunto. Sei que há muitas opiniões divergentes, mas também convergentes. O importante é falar sobre isso e assumir uma postura consciente. Posso apenas falar por mim e a única coisa da qual tenho certeza é: quero poder deitar a cabeça no travesseiro com a consciência tranquila!
Desejo a todas que passam por aqui uma ótima tarde!
Beijos
Ju