A Revolução Industrial significou o fim do artesanato?
A produção manual de objetos e utensílios é muito antiga, como vimos na 2ª parte de “As origens do artesanato”. Os artesãos surgiram nas comunidades dentre aqueles indivíduos mais habilidosos e talentosos e durante séculos o fazer manual foi sendo aperfeiçoado. O crescimento das cidades elevou o prestigio dos artesãos e muitos deles eram requisitados pela realeza.
O aumento do consumo levou os artesãos a aumentar sua produção significativamente e entrou em cena um novo personagem: o comerciante. Este passou a fornecer a matéria-prima aos artesãos; em seguida, passou a contratá-los para trabalhar em sua pequena manufatura, onde por vezes havia máquinas muito rudimentares para auxiliar o trabalho. O comerciante começa a produzir e o artesão vinculado a ele começa a perder controle sobre o que produz: cada artesão contratado na pequena manufatura realiza um tipo de tarefa. É o início da divisão do trabalho, algo que contrasta profundamente com a atividade artesanal na qual, como vimos na 1ª parte, o profissional controla todo o processo, desde a obtenção da matéria-prima até à comercialização do produto final, além de ser o proprietário das ferramentas de trabalho.
No início, artesanato. Mais tarde, manufatura. Porém, a situação dos artesãos muda radicalmente a partir do século XVIII com o advento da Revolução Industrial:
A substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril constituiu a Revolução Industrial; revolução, em função do enorme impacto sobre a estrutura da sociedade, num processo de transformação que foi acompanhado por notável evolução tecnológica. (http://www.cencal.pt/pt/livro/Cap1-Introdução.pdf)
Em resumo, as oficinas artesanais dão lugar às pequenas manufaturas e estas, às grandes fábricas e indústrias. Vale ressaltar que esse processo não ocorreu na mesma época em todos os países do mundo, mas isso é outra história.
Com a Revolução Industrial,
os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão (na qualidade de empregados ou operários), perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro. Esses trabalhadores passaram a controlar máquinas que pertenciam aos donos dos meios de produção os quais passaram a receber todos os lucros. (Wikipédia)
A maior parte de tudo o que consumimos atualmente é produzido industrialmente e quando os produtos entram em nossas casas, na maioria dos casos nem sequer temos ideia de como ele foi feito e muito menos por quem foi feito. São produtos anônimos, fabricados em série. Com o artesanato não é assim. Cada peça tem uma história, muitas vêm assinadas e em muitos casos podemos até conversar com quem a fez.
Agora cabe a pergunta: a Revolução Industrial significou o fim do artesanato? Não significou o fim, mas é fato que com a industrialização
o artesanato entrou num processo de desagregação e decadência, reservando-se para as atividades de caráter marginal dentro do quadro econômico do mundo ocidental. (http://www.pick-upau.org.br/nacao/jaragua/jaragua.htm.Conceitos e histórico do artesanato)
Isso dá muito que pensar. Estamos no século XXI, amamos e fazemos artesanato, mas poucos têm idéia de que essa atividade é muito discriminada. Fala-se em artesanato, cultura popular, arte, arte erudita, arte popular. Ihhh…são muitos conceitos que escondem, na verdade, preconceitos. Falarei disso mais adiante…
Assim, finalizo com mais uma citação:
Conceitos e história à parte, o artesanato hoje é a relação das pessoas com as pessoas, um elo entre as culturas e os costumes, a tradição que não é imposta, mas sim passada de pai para filho. De uma forma ou de outra hoje o artesanato na maioria das vezes é feito por pessoas comuns, mas que acima de tudo, transmitem seus sentimentos a cada peça, que vendem não só objetos, bijuterias, mas vendem emoções, sentimentos, desejos e até tormentos, tudo contido em seus trabalhos. (http://www.pick-upau.org.br/nacao/jaragua/jaragua.htm.Conceitos e histórico do artesanato)
Bem, pessoal, encerro aqui minhas curtas e tortas linhas sobre as origens do artesanato. Acredito que mais do que gostar de fazer é preciso compreender, valorizar o que se faz e disseminar o amor que depositamos em cada peça, como faziam os antigos artesãos.
Espero que tenham gostado.
Até a próxima
Bjs,
Ju
Fontes:
Dicionário Houaiss/ verbete arte
www.cencal.pt/ptlivro/Cap1-Introducao.pdf
www.pt.wikipedia.org/Revolucao_Industrial
Imagem: Cestaria / www.infoescola.com